A origem da versão revisada

II- De Erasmo ao Textus Receptus

Os mais antigos manuscritos da Bíblia são os papiros, que datam do 2º e 3º século. Os autógrafos perdidos têm nessas evidências o mais próximo testemunho. No entanto, por serem de material frágil, dos papiros restam apenas fragmentos, e cada fragmento é considerado um manuscrito.

A partir do 4º século surgiram em pergaminho, os códices unciais e cursivos. Uncial é o manuscrito em letras maiusculas; posteriormente vieram os cursivos, em letras minúsculas. Os grandes exemplares desse tipo são os Códices Sinaítico eo Vaticano (B), unciais do 4º século, considerados os maiores esteios da Crítica Textual.

Em seu aparato crítico, Nestle apresenta as evidências textuais na seguinte ordem: papiros, unciais, cursivos, versões e citações dos pais.

A patir de 1844, Constantin von Tischendorf começou a descobrir preciosos manuscritos e, prosseguindo em suas investigações, no ano de 1859 encontrou, perto do Monte Sinai, o famoso Uncial Sinaítico, do 4º século. Outras descobertas foram surgindo e o resultado é o grande interesse que o estudo do Novo Testamento despertou no século 19. Homens como Tregelles, com sua edição crítica do Novo Testamento; Tischendorf, com suas oito edições do Novo Testamento e material completo de Crítica Textual; Westcott e Hort trabalhando juntos durante 30 anos, escreveram um capítulo novo na história do texto sagrado.

Desiderius Erasmus (1466 – 1536), humanista cristão exponencial do período da Reforma (ver: Erickson, M.J. Conciso Dicionário de Teologia Cristã, JUERP). Erasmo era uma pessoa de difícil relacionamento. Foi amigo e inimigo de Lutero. Como humanista, era um individualista que nunca encontrou um grupo religioso digno de sua presença; jamais se acomodou a qualquer forma de protestantismo em sua época. È como se um crente, hoje, não encontrasse uma só igreja ou denominação digna dele e andasse isolado de tudo e de todos, pensando de si mesmo além do que convém pensar (RM 12:3). Mas Deus pôde usar este homem, como usa ainda hoje muitos de nós, a despeito de limitações e fraquezas.

Erasmos publicou, em 1516, o primeiro Novo Testamento Grego a ser entregue para venda. Infelizmente, ele não dispunha de textos mais antigos e, além disso, precisou suprir alguns claros, retraduzindo da Vulgata. Esse primeiro trabalho passou por cinco revisões, sempre na tentativa de melhorá-lo, mas os grandes unciais do 4º século não eram conhecidos. Dizer que Erasmo desprezaria tais evidências é enveredar para o fantismo. Logo Eramos, que tentou reformar a igreja pela erudição!

Edições do Novo Testamento surgiram, e não foram poucas, a partir do seu trabalho:

Stephanus(1546), usando novos manuscritos, publicou quatro edições baseadas em Erasmo.

Teodoro de Beza (1565) produziu nove edições. Seu trabalho, no entando, é conhecido pelos desvios e adições ao texto de Erasmo.

Apareceram os editores da família Elzevir (1624), que basearam seu trabalho, infelizmente, em Beza, e trouxeram a lume o chamado Textus Receptus. Esta designação é comercial, porque um texto não pode sair do prelo com o nome de “Recebido”. É um pré-marketing que nunca correspondeu à verdade.

Almeida não teve acesso aos manuscritos mais antigos que hoje conhecemos, por isso, após uma primeira tentativa baldada de traduzir a partir de traduções (isto é, não de originais), tomou por base o Textus Receptus, a edição dos irmãos Elzevir, baseada em Beza.

O Receptus é uma compilação de manuscritos bizantinos (orientais), considerados inferiores aos ocidentais, sendo o mais antigo deles do século 10. Nessa época, ainda não eram conhecidos os papiros e os unciais, evidências mais próximas dos aútografos. Somente a título de comparação, o manuscrito mais antigo que a edição Elzevir usou é pelo menos oito séculos mais novo que os papiros e seis séculos mais novo que o unciais.

De Almeida até a Edição Revista e Corrigida houve diversas revisões: em 1840, a chamda Revista e Emendada; em 1847, a Revista e Reformada; em 1873, a Revista e Correcta; em 1894, a Revista. Das duas últimas surgiu em 1898, a Revista e Corrigida, que no Brasil foi editada pela primeira vez, em 1944, pela Imprensa Bíblica Brasileira, como Edição Revista e Corrigida na grafia simplificada com algumas variantes. Há mais de 50 anos esta versão vem sendo administrada pela Imprensa Bíblica Brasileira e pela Sociedade Bíblica do Brasil. Diversos segmentos ainda a têm adotado. A Sociedade Bíblica do Brasil promoveu um revisão, sob os auspícios das Sociedades Bíblicas Unidas, sendo concluída em 1959 e conhecida por Revista e Atualizada. Serviram de base à revisão os seguintes originais: Bíblia Hebraica de Kittel e Novo Testamento Grego de E. Nestle. Na época havia trabalho crítico mais avançado, edições mais novas, porém, comparando –se com o Receptus, a diferença é muito grande.

A Imprensa Bíblica Brasileira, nesse mesmo tempo, estava promovendo a sua revisão da Revista e Corrigida. Seus originais foram Westcott e Hort, verdadeiro marcona história do texto, e Nestle, cujo uso revestiu-se de grande importância uma vez que agrupou Weiss, Tischendorf e Westcott & Hort.

A antiga Almeida foi revisada por estudiosos batistas no período de 1940 a 1967 e publicada pela primeira vez, em formato de púlpito, sob o título de Versão Revisada da tradução de João Ferreira de Almeida de acordo com os melhores textos hebraico e grego. Esta versão foi pouco a pouco conquistando seu espaço, até ser recomendada como versão oficial da Convenção Batista Brasileira e aceta pelos mais diversos segmentos envagélicos.

Revendo antigos documentos da Imprensa Bíblica Brasileira, encontramos o registro das comissçoes que trabalharam no preparo da Versão Revisada, e aqui destacamos alguns ilustres revisores: S.L. Watson (Presidente da primeira Comissão), Manuel Avelino de Souza, A. R. Crabtree, W. E. Allen, Antonio Neves de Mesquita, A. B. Christie, Eodice Fontes de Queiroz, João Filson Soren (Presidente), Roque Monteiro de Andrade, Reinaldo Purin, Almir dos Santos Gonçalves, Raphael Zambrotti, A. Bem Oliver (Comissão Consultiva), José do Reis Pereira, Edgar Francis Hallock, Rubens de Souza Lima, Broadus David Hale, Lea Lessa, Harold Schaly e outros.

A maioria já repousa na glória celestial. Homens “dos quais o mundo não era digno” (Hb 11:38), que desafiaram toda a sorte de dificuldades, vararam madrugadas, anos a fio, no exame de cada palavra de Deus, à luz dos mais antigos e melhores originais conhecidos até então.

Esse luminares entregaram ao mundo de idioma português a melhor revisão que já se produziu da tradução de Almeida. É que, além da capacidade, que não lhes desconhecemos, contaram, mercê de Deus, com o resultado das memoráveis descobertas de textos antigos, não conhecidos no dias do humanista Eramos e também quando a Bíblia de Almeida foi concluída pelo Pr. Jacobus Op den Akker, para, a seguir, ser impressa na Batávia. A julgar pela superioridade do segundo trabalho em relação ao primeiro, admitimos que, num terceiro, Almeida também teria usado os melhores textos para revisar sua segunda tradução.

Foram 20 anos de intensa atividade, que melhorou a linguagem, mudou criteriosamente onde era imprescindível mudar, corrigiu passagens inadequadas, deu extaidão às palavras, consistência à tradução, precisão ao tempos verbais, acrescentou notas de rodapé, eliminou cacófatos, e para isso a Comissão contou com mulheres e homens de Deus, aprovados por Deus, de vida cristã e proficiência intelectual inquestionáveis, que gastaram parte de duas vidas, e, certamente, não trabalharam em vão.

Foi Alvo da Imprensa Bíblica Brasileira, desde a sua fundação, apresentar aquilo que Deus de melnor, escondido em seus ricos tesouros. Temos consciência de que não existe uma edição perfeita e que ainda precisamos melhorar. Recentemente, a Imprensa Bíblica Brasileira empossou o novo Conselho Editorial, composto pelos seguintes professores: Antigo Testamento: Roberto Alves, Glen Paul Johnson, Landon Booth Jones, Lonnie Byron Harbin; Novo Testamento: Darci Dusilek, Guenther Carlos Krieger, José Alves da Silva Bittencourt, Roberto Alves de Souza (Secretário); Língua Portuguesa: Éber Vasconcelos (Presidente), Adalberto Alves de Souza e Erotildes Malta do Nascimento. Tudo porque A IBB continua no firme propóstio de sempre melhorar. Para isso envidará todos os recursos, desde que não ultrapassem a ética e o amor fraternal.

Foi assim que sugiu a Versão Revisada, que hoje goza da melhor reputação entre o público evangélico ledor da Bíblia Sagrada, para a glória do Senhor.

Pedro Moura de Almeida
Coordenador Geral do Conselho Editorial da IBB.

IV- Versão Revisada da Imprensa Bíblica Brasileira

III- De Almeida à versão Revisada e Corrigida

É nossa intenção apresentar um pouco da história do texto bíblico, desde os mais antigos, até chegarmos à Versão Revisada de acordo com os melhores textos em hebraico e grego.

Ensejamos suprir de maiores informações os diversos segmentos evangélicos que têm a adotado e, ao mesmo tempo, fazer justiça ao extraordinário trabalho promovido pela Imprensa Bíblica Brasileira, instituição batista a serviço do público evangélico, do povo em geral e do mundo de idioma português.

Quanto à criação, em 1940, da Imprensa Bíblica Brasileira, duas decisões prioritárias foram tomadas no mesmo dia: 1) Imprimir a Edição da Revista Corrigida da Bíblia de Almeida, para suprir a falta de Bíblias no Brasil, ocasionada pela II Grande Guerra Mundial; 2) Iniciar imediatamente uma criteriosa revisão do referido texto, à luz dos melhores manuscritos conhecidos até então. Isto porque, não conhecendo os melhores originais, Almeida usou textos mais modernos, com retraduções da Vulgata, seguindo a Erasmo de Rotterdan e as edições que descendem do seu trabalho, principalmente a Elzevir.

Nenhuma edição da Bíblia é baseada nos autógrafos, isto é, manuscritos dos autores bíblicos; todas têm sua origem nos manuscritos originais, isto é, escritos na língua original. Eram copiados à mão por profissionais, copistas, com seriedade e fidelidade. Assim chegaram até nós os preciosos ensinos da Palavra de Deus.

I- Manuscritos mais antigos